domingo, 9 de janeiro de 2011

"Casar foi questão de estratégia" Dani Calabresa e Marcelo Adnet na Revista ALFA - Janeiro 2011


Juntos há dois anos, os humoristas Dani Calabresa e Marcelo Adnet deixam de gracinhas para falar sério: casar é o melhor jeito de fugir dos contratempos e tentações da solteirice – e curtir a vida
A esposa pergunta ao marido: “Amor, você prefere uma mulher bonita ou um a inteligente?” Distraído, o pobre-diabo responde convicto: “Nenhuma das duas. Você sabe que eu só gosto de você, meu amor”. Sim, começamos a reportagem com uma piada. Nós também nos rendemos à ditadura do gracejo – parece que, para fazer sucesso no Brasil, hoje, só sendo comediante. Falando nisso, você conhece alguma coisa mais engraçada do que a rotina de um casamento? Foi por isso que escolhemos Dani Calabresa e Marcelo Adnet para ilustrar nossa reportagem especial sobre relacionamento. Os dois, aos 29 anos, resolveram dar um basta no mundo da libertinagem e dividir o mesmo endereço e fluidos genitais (o quê? Achou pesado? É tudo piada!).
Diferente dos personagens da nossa piada, Adnet e Dani são, aparentemente, um casal feliz. Tudo bem que demoraram 5 horas para chegar ao estúdio onde aconteceriam as fotos – durante a espera, a reportagem da ALFA ouviu dos assessores deles versões diversas, como a de que o casal havia se separado em plena chuva ou que os táxis conspiravam contra eles. Quando chegaram, frescos de banho, pediram desculpas e foram simpáticos e solícitos durante as quase 4 horas em que permaneceram no estúdio.
Em 2010, o carioca Adnet se tornou o cara da MTV. Além disso, foi disputado por grandes emissoras, protagonizou diversas campanhas publicitárias, estourou no Twitter e roubou a cena no filme Muita Calma Nessa Hora, que fez uma boa bilheteria enquanto esteve em cartaz. A paulista Dani estrelou dois programas na MTV – um deles ao lado de Marcelo – e viajou o Brasil fazendo stand-up. “Trabalhamos dez anos em três”, diz Adnet, parodiando o slogan desenvolvimentista de JK.
Como é a vida conjugal do mais promissor casal da comédia no Brasil? “Ele perde tudo. Perdeu duas nécessaires, três relógios, um celular...” , conta Dani. Casamos em maio, após um namoro de dois anos, eles moram em um apartamento no bairro de Higienópolis, em São Paulo. “Quando chegar em casa agora, vou jogar a calça no sofá”, diz Adnet , olhando para Dani. “E ela não vai dormir enquanto a calça não sair de lá”. Dani, que está passando por uma manicure pré-ensaio, contrai os braços de pavor: “Vou sonhas que a calça vem me pegar”. Apesar do cansaço e dos objetos perdidos, a vida é boa para os dois. O ano pode ter sido duro – mas não chega nem perto do que acontecia antes no namoro. Adnet tinha um lifestyle nômade, entre Rio, onde morava com a mãe e a irmã, e a casa de Dani em Santo André, no ABC paulista. “Ele pegava um vôo às 3 horas e chegava em Santo André às 7, só para a gente se acoplar um pouco antes de trabalhar”.
O ensaio fotográfico e a entrevista a seguir se estenderam madrugada adentro. Cansados, famintos e ansiosos para viajar de férias? Se sentiam isso, não percebemos . É uma dupla de comédia perfeita – e, como em toda dupla de comédia, um serve de escada para o outro. E quem se presta a tal papel entre os dois? Errou quem disse Dani Calabresa. O escada aqui é o Adnet. “Ele não é o piadista. Ele dá as piadas, mas não quer ser engraçado o tempo todo”, diz Dani.



Como é misturar casa e trabalho?
DANI: O que dá certo é trabalhar junto na mesma área. A gente só discute quando está longe, sofre porque quer ficar junto. Se passamos nove dias separados, um viajando para um lado e outro para outro, a gente fica desesperado no telefone. Um casal que não acerta as agendas tem motivos para o relacionamento acabar.
Quando se conheceram, usaram as mídias sociais para namorar?
ADNET: O Facebook não existia, rolou um momento SMS.
DANI:Eram mensagens românticas...
ADNET: Você ainda tem aquele celular antigo em que guarda mensagens?
DANI:Olha, eu estou tão pobre que é o mesmo celular desde 2007. Você coloca aí na entrevista que é para eu não ser assaltada. Eu tenho o mesmo celular, é muita miséria.
O que te atraiu no Adnet? Alguma piada em especial?
DANI:Pelo contrário, ele não tenta ser aquele “Zé Graça”. É uma pessoa séria, como poucos comediantes que conheço. Cara que é muito Zé Graça não dá. Dali a pouco quer te dar uma tortada na cara.
ADNET:Eu sou muito autocrítico. Por exemplo, eu não sou fumante, mas nas poucas vezes em que acendi um cigarro na rua me preocupei em não jogar fumaça na cara de ninguém, com medo de ter um neném por perto...Sou mega preocupado com quem está à minha volta.
E você, Adnet, foi atraído pelas gracinhas da Dani?
ADNET:O que gostei no humor da Dani foi ver uma sinceridade e uma crítica à vaidade feminina. A vaidade feminina é escravizante, e a Dani tem uma coisa de dar opinião, acho que é até um pouco masculino...
DANI:Sou vaidosa, gosto de me maquiar, mas sou moleque. Sempre tive amigos homens, no grupo de stand-up sou a única mulher, não me importo se fazem piada comigo. A maioria das meninas não gostam de ser motivo de chacota, fica chateada, quer ser bonita. Aceito tranqüila.
Questão fatal para um casal que vive e trabalha junto: compartilham escritório ou computador?
ADNET:A gente tem um escritório e às vezes usa o mesmo computador. Não tenho vontade de bisbilhotar e-mail e celular. Tenho preguiça dessas coisas. Acho isso mala. A gente já tem tão pouco tempo...Se estou em casa, quero curtir.
DANI:Nossa geração é instigada a bisbilhotar. Hoje no Orkut, você vê aquele monte de depoimento, difícil alguém manter uma cara só. Você vê gente que se odeia pelas costas mandando mensagem bonitinha, “você é luz, você é tudo”.
ADNET:A rede toma tempo do casal. Às vezes estou em casa, na cama com ela, mas interagindo com pessoas que não ela no Twitter.
DANI:É, mas ele me “googlou” para me conquistar. Não falei para ele que eu era de Santo André, falei que era de São Paulo, você foi no Google e viu que eu era de Santo André.
ADNET: Normal, hoje se você conhece uma pessoa, digamos, Joana Fagundes, põe no Google automaticamente para saber se ela já assassinou alguém, acha a Joana Fagundes nas redes sociais...
DANI: Quem é Joana Fagundes?
ADNET:Sei lá, inventei agora.
DANI:Ah, tá, vou inventar um nome de qualquer homem também: Rodrigo Santoro. Vamos jogar no Google e ver se existe.
Você é ciumenta, Dani?
DANI:Um pouco. É difícil namorar uma pessoa famosa. Nosso público é jovem, as meninas querem casar com ele, choram, querem dar presente, tirar foto de onde a gente mora...Eu também recebo mensagens de uns homens que você não acreditaria...Cantadas no Twitter, no e-mail. E tem umas piranhas que vão no teatro para dar em cima de comediante, as marias-comédia! A gente está casado, se ama, isso não me afeta. Agora, se vier uma piranha aqui...talvez eu desse umas porradas nela!
Vocês são casados de papel passado?
DANI: Cartório, igreja. Com comunhão parcial de bens, o que a gente conquistar juntos vamos dividir.
Tamanho é documento?
ADNET:Olha, eu nunca experimentei para saber (risos)...Se fosse escolher, preferiria levar um palitinho do que uma c#%&*.Bom, tamanho não é documento quando se tem dimensões normais. Porque, se o cara tiver um pau muito grande, vai ter de levar um carregamento de KY com ele.
DANI: Se for pequeno, vai comprar um carro grande. Mulher não quer pau minúsculo. Mas o mais importante é o cara saber fazer.
Onde o sexo entra em sua lista de prioridades?
ADNET: Consigo viver sem religião e sem aprimoramento intelectual. Agora, sem sexo...
DANI:Nutella!!! Se não tiver Nutella na lista, nem vamos continua! Mas...hmmm, vai ficar chato eu falar que sexo e amigos são mais importantes do que a família. Minha mãe vai comprar a revista e chorar. Então põe: sexo com os amigos,a família e Nutella!
Já broxou?
ADNET:Na minha vida? Já, já.
DANI:Mas comigo não!
ADNET:Puts, agora vai sair na capa da revista: “Adnet, um broxa”.
Broxar é constrangedor?
DANI: Nada, eu danço...
ADNET:Tem a ver com a expectativa. Você está na balada de madrugada, leva uma bêbada pra casa, tudo bem, ela vai dormir. Agora, se você  insiste com a pessoa, chega em casa e nada, é um problema. Mas tem broxadas aceitáveis, tipo lembrar do trabalho e tal...
Como serão as uniões no futuro?
ADNET:Mais seletivas. Casamento hoje é decisão, não uma obrigação.
DANI:As mulheres hoje não têm tanto prazo para casar, podem ser mães aos 36, 40.
Já foi traído?
ADNET: Acho que não.
DANI:Hummmm.Ah, tem que acreditar, né?
ADNET:Como vou saber disso, pô?
(constrangimento generalizado)
Não foi complicado deixar a solteirice justo no início do sucesso?
ADNET: Olha, não existe essa coisa de conhecer uma pessoa legalzinha aos 16, uma bacana aos 20, uma incrível aos 25 e uma pra casar aos 30. Além do amor, que não se discute, nem sequer consigo me imaginar solteiro hoje. Vamos dizer que eu tenha um compromisso com a Dani amanhã às 11 horas. Aí a gente se despede, logo mais eu saio, caio na balada, conheço pessoas incríveis, vou numa festa muito louca e me pego vendo o sol nascer em Santos. Aí lembro...Putz, tem aquele compromisso com a Dani! E agora? O que quero dizer é o seguinte: um casamento te ajuda a ter uma vida mais focada no trabalho.
Vocês não têm medo de se arrepender do casamento?
ADNET:Não. Pensando friamente, é uma questão estratégica. Tem uma coisa da vida de solteiro que é a inquietude, vou ali na festinha curtir esse momento. Mas também tem outro lado, você é uma pessoa pública e se abre para cada vez mais gente. No primeiro dia tudo bem, no terceiro dia você conhece alguém que quer te roubar, no quarto conhece alguém que quer se aproveitar de você, no quinto dia você acorda sem um rim...
DANI:O casamento é uma proteção.
ADNET:É uma opção que a gente fez por amor, mas também te blinda.E, agora que a gente tem sucesso, a gente se protege. O solteiro tem uma coisa de aventura que atrapalha muito. A gente vê nossos amigos mal no trabalho, bêbados, vomitando mesmo...Um horror.
DANI:Quando estava solteira já não gostava disso. Não era desesperada. Não tinha namorado firmão. Nem gostava de namorar.Ia pras baladas com meus amigos bichas, pra dar risada e dançar e pensava: “Deus, nunca vou achar um cara legal!” Quando conheci o Marcelo, no fim de 2007, a gente se gostou, mas ficamos afastados um tempo, por causa do trabalho. Aí ele me ligou, a gente chorou, porque precisava muito ficar junto, e eu disse “a gente precisa namorar!”. É muito bom, no meio desse pega pra capar do sucesso, da putaria, todo mundo quer dar pra alguém famoso, todo mundo quer me comer só porque tô na TV, não precisar arriscar, ter essa proteção. Mas isso é sorte, né, porque não dá pra planejar.
ADNET:E também é uma escolha. E é ao mesmo tempo algo que você aceita. Não tem essa de “agora não quero, porque quero viver esse momento de fama”. A gente quis!





Fonte: Revista Alfa

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