sexta-feira, 4 de março de 2011

Faz-me rir: Marcelo Adnet se multiplica na MTV. E no sonho da concorrência



Se não fosse o convite do amigo de faculdade Fernando Caruso para participar de uma peça de teatro de improviso, em 2003, talvez Marcelo Adnet, agora com 29 anos, demorasse a descobrir o que nasceu para fazer. Na época, o carioca do bairro Humaitá estudava jornalismo na PUC-Rio e jamais poderia imaginar que ganharia a vida – e muito dinheiro – fazendo graça no teatro, na TV e no cinema.
Hoje onipresente em campanhas publicitárias, Adnet ostenta prêmio no teatro (a peça Z.É – Zenas Emprovisadas, com o amigo Caruso, faturou o Shell em 2004), oito filmes no currículo, além de ter virado “o cara” da MTV e humorista disputado por todas as grandes TVs abertas. Em março, quando a MTV estreia nova programação, Adnet estreia novo programa e a segunda temporada do bem-sucedido Comédia MTV (leia mais no box ao lado).
O Estado conversou com o apresentador na última quarta-feira, em seu primeiro dia de folga “depois de muito tempo”, quando ele estava com a mulher, também comediante da MTV, Dani Calabresa, no Rio. Adnet fala do sucesso, da equivocada fama de mandão e por que tem resistido ao assédio da concorrência.

• Você demorou para decidir se ficava ou não na MTV. Foi difícil chegar a um acordo financeiro?

Ah! É uma decisão que vai guiar o ano inteiro de trabalho. É bom pensar bem. Recebi convites de outras emissoras, principalmente em 2009. Mas no último ano, o pessoal percebeu que eu não estava na MTV por falta de opção, mas pela liberdade de expressão. E renovei só por um ano porque quero ter o direito de pensar a cada fim de ano, olhar pro momento, vai saber como vou estar até lá?


• Você estreou na TV em 2008, mesmo ano que o CQC, na Band, quando a TV “descobriu” os talentos do stand-up e do improviso que já estavam nos palcos e na web. Acha que teria o mesmo sucesso em outros tempos?

Claro que o momento influenciou muito na possibilidade de ter um programa como o 15 Minutos, essa coisa livre, do improviso. É difícil pensar em outros tempos, mas o momento de a internet chegar como a nova TV foi bem propício.


• Por que acha que a TV demorou a apostar nos comediantes do stand-up e do improviso?

Por conservadorismo e ponto final. Medo de mudar, de perder audiência, investidores e dinheiro. E como foi uma coisa que surgiu na Band e na MTV, não deixa de ser algo meio marginal, alternativo. Agora os grandes – Globo, Record e SBT -, têm de correr atrás porque os menores se destacaram. E ninguém do CQC é um grande galã, tampouco eu. A gente é mais humano, garotos que vivem os mesmos problemas, alegrias e desejos da maioria da população. Rola uma identificação.


• Você também é jornalista. Como isso influencia seu trabalho?

Adoro brincar com a informação. Igual (os funks do) Gaiola das Cabeçudas: não é nada profundo, nada educador, mas tem informação. E a formação de jornalista me ajuda a me expressar, tenho domínio da língua portuguesa, posso fazer uma rima mais facilmente e falar com muito mais segurança. Não preciso de palavrão ou gírias demais pra me identificar com o público. Preservo minha personalidade. E é uma profissão que precisa de cultura geral e faz você se interessar e falar sobre todos os assuntos.


• E quando você descobriu essa veia artística?

O ambiente lá de casa influenciou. Meu pai é músico, minha mãe, figurinista, sempre trabalhou com artes. Por parte de mãe, meu tio é artista plástico, meu avô era surfista, mergulhador e músico. Por parte de pai, todos os meus tios são músicos. Então, apesar de eu não tocar nenhum instrumento muito bem, tenho noção. Consigo cantar, compor, pensar numa harmonia, mas sem técnica. E quando subi no palco pela primeira vez, em 2003, adorei e descobri que toda aquela curiosidade jornalística e as coisas esquisitas que estudei (como russo, por exemplo), eu podia por pra fora em forma de arte. Mas nunca fiz curso de teatro nem de música.


• Parece que você vive de se divertir. Isso é só impressão?

Na verdade tem muita responsabilidade nisso. Tenho que viajar o tempo todo, estou trabalhando muito, então não posso dar mole, me desesperar. Tento sempre estar equilibrado, tratar todo mundo bem, humildemente. Sinto o peso da responsabilidade, mas não tenho medo dela não.


• Muita gente se refere a você como “nova aposta do humor brasileiro”. Você se vê assim? Carrega esse peso?

Olha, encaro numa boa, mas sei que tem muita gente com pedra na mão pra atirar se alguma coisa der errado. Mas tudo bem, gosto da democracia. Se um dia fizer uma escolha errada, me der mal num projeto, faz parte. Não me cobro de ser perfeito, de ser galã. Só me cobro empenho e alegria.


• Há quem o considere mandão. Você é mandão?

A única matéria na internet que diz que sou mandão foi uma entrevista com o Kiabbo (ex-companheiro de Adnet no extinto programa ‘15 Minutos’), para o R7, em que ele falou coisas que me deixaram muito chateado. Até criei um Twitter pra me defender. Na entrevista ele dizia que eu ficava falando que eu era f…, que não precisava de ninguém. E eu nunca diria isso. Até hoje fico meio irritado. Fui até a casa dele pra conversar, e ele me falou que estava chateado com a MTV, por ter saído de lá, e que atirou pra todos os lados, indusive pra cima de mim.


• Então você não é mandão?

Eu jamais teria fama de mandão, porque jamais vetei qualquer cena. Nunca pedi a direção do programa, nunca fiz redação final nem supervisão para decidir o que vai entrar. Mas não pretendo ser uma unanimidade. A busca pela unanimidade é a busca pela mediocridade.


Você pensa em dirigir seus programas?

Num futuro próximo, talvez. Esse ano não, mas gostaria muito de fazer um filme. Não seria um comedião. Um filme é uma grande peça de expressão. Mas fora isso, não. Gosto de atuar, de improvisar. E se no ao vivo der errado, brincar com o erro.


• Em quanto a Dani influencia no seu trabalho? Vocês levam muito trabalho para casa?

la influencia direto, como a gente fica muito tempo junto, temos muita ideia juntos, anotamos num caderninho. Mas a gente tem um humor diferente, gostos diferentes. A Dani gosta de musicais, seriados. E eu gosto de umas coisas bem imprová¬veis, malucas, de aprender línguas estranhas. E não tenho nada de nada de mandão, entendeu? (risos) Mulheres independentes me chamam a atenção, por isso que me apaixonei e me casei com a Dani. Ela é uma mulher muito forte.


• Em uma entrevista ao Jô Soares, vista por mais de 1 milhão de pessoas na web, você diz que é cheio de manias temporárias. Qual a sua mania agora?

Estou estudando papiamento, uma língua do Caribe, falada em Aruba, Curaçau e Bornéu. Eu e Dani fomos passar férias em Aruba, em 2010, conheci a língua e fiquei maravilhado, porque é uma mistura de espanhol, inglês, holandês e português. Fiquei tão encantado com o sotaque, com as músicas, que nessas férias fomos a Curaçau. E agora estou falando papiamento, escuto muitas músicas em papiamento. É uma coisa que não serve pra nada, não tem aplicação nenhuma, que eu não estou ganhando dinheiro, mas que eu adoro. Já dá pra botar essa grande vantagem no currículo (risos).



Adnet Ao Vivo

Até o fechamento desta edição, na quinta-feira, Marcelo Adnet ainda não tinha a definição final do formato de seu novo programa na MTV, com estreia marcada para daqui a duas semanas. “Fizemos três pilotos e a cada um deles descobrimos um pouco o que vai ser a atração: sei que é ao vivo, tem 45 minutos de duração, não tem plateia e sou eu sozinho, num cenário cheio de LCDs, como se fosse minha consciência”, explica o humorista. “Vou comentar notícias da semana de maneira única, com dublagens, colagens e manipulação da informação.” Adnet, que participa do trabalho editorial, da escolha dos temas, criação de cenas e do roteiro, vai falar ainda de notícias restritas à internet, além de comentar sobre o Twitter e outras redes sociais. “Posso fazer música, entrevistar pessoas por telefone, falar com o telespectador e ver o que está passando na emissora concorrente,” O nome também é uma incógnita. “Tive uma experiência com o Furfles há dois anos: um nome engraçado, mas atrapalhou na hora de viralizar na web”, conta. “Gosto de Adnet Ao Vivo: é fácil e diz a que veio.”



Fonte: TV & Lazer – O Estado de São Paulo (27/02/2011)

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